fim de mundo com lan-house

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sábado, 23 de agosto de 2008

Partenogenese Pop

Eis que surge uma nova diva pop: performática e montada, retrô e futurista. Lady Gaga é mais do que a nova onda hype do momento. A americana de 22 anos não foi alçada a esse posto, pelo contrário: se auto emula como a mais nova diva do pop.

Os requisitos para qualquer uma das possibilidades acima ela possui: em nosso cenário da música(e não só ele) obcecado por dinheiro, sucesso(sexo) e fama, Lady Gaga funciona como uma espécie de consciência da loucura dentro da loucura. Não se trata de apontar saídas, dessaturar os estímulos, expectativas, desacelerar o ritmo. A idéia é justamente o contrário, levar tudo isso à máxima potência e esvaziá-lo de qualquer significado.

O que importa em sua performance é o corpo, o gesto, aquilo que se convencionou chamar de atitude. Não é o que você faz, mas como faz. E Gaga faz bonito, de um jeito próprio, esquisito. E isso no mundo pop é uma virtude inquestionável. Gaga traz um pouco de inusitado ao previsível, sem reinventar a roda, mas rodando com ela.

A maneira como a cantora cobre seu corpo é seu maior trunfo. Se o que temos visto na última década são artistas que usam o artifício para simular o natural, Lady Gaga assume completamente o artifício, a extravagância e a eleva ao status de proposta estética.

Cabelos loiros pintados, escovados, franja absurda, apliques longuíssemos, maquiagem. Mas não só: ombreiras cônicas, maiô em V, óculos escuros, sempre. Referências dos anos 70 e 80, que menos do que embarcarem na onda fashion do momento, trazem de volta a possibilidade da roupa como proteção do corpo no que este tem de frágil, e não na sua potência para revelar essa fragilidade. Vide os óculos, dos mais variados modelos, sempre escuros: ao contrário da artista que os coloca para se esconder dos flashs, Lady Gaga faz uso do acessório para se afirmar como celebridade.

Nos últmos anos artistas como Britney Spears e Kylie Minogue têm tido como marca figurinos que na verdade as despem, por mais pano que neles haja. Mas Lady Gaga percorre exatamente o caminho contrário: seu figurino é de construir o corpo, acentuá-lo, modificá-lo. Se aproxima, portanto, de uma Grace Jones, ou de uma Madonna da época dos sutiãs cônicos de Jean Paul Gaultier. Talvez este retorno aponte, afinal de contas, num movimento exibicionista, mas contra a vidipendilização do corpo: para revelar curvas e linhas, entram as formas geométricas, em vez do caimento transparente. O corpo é nossa fragilidade, a roupa uma armadura que revela o que é interessante e ao mesmo tempo esconde. Como o óculos/escudo que entrega o disfarce, uma máscara que serve pra revelar.


Mas não é só o visual, é a atitude. Apesar de sua auto-afirmação como diva, Lady Gaga não é mais uma cantora com síndrome de celebritite. Porque em seu trabalho o tema da celebridade é justamente um tema, não um fim. Gaga sabe que o que está em voga é o retrô, e usa isso, tanto em sua música quanto em seu visual. É preciso ser exótica, resgatar algo de mistério que andava perdido no pop. E é preciso falar também sobre o estado das coisas, da obsessão pela fama, pelo novo, pelos corpos, pelo dinheiro. Não é por acaso que seu primeiro álbum se chame The Fame, palavra que parece ganhar status de lugar e sugerir uma epopéia em sua busca, descrita ironicamente em grande parte no disco.

As melhores faixas do cd são justamente as que se referem claramente a esse mundo, como na ácida faixa título(Give me something/ I wanna see television and hot blondes in odd positions), ou na absurda Paparazzi, onde a cantora declara seu amor pelos normalmente odiados fotógrafos de celebridade.

Lady Gaga se encontra, porém, em uma sinuca de bico: se por um lado toma para si uma persona exótica, exagerada, teatral, sua música não é mais nem menos do que o mais puro pop. A cantora afirma que sua intenção é trazer uma certa visão de underground ao mainstream, mas um certo choque acaba se impondo nessa relação. Em alguns momentos The Fame se aproxima tanto do pausterizado corrente que parece não sobrar nada de expressão própria, individual.

A voz potente da cantora, entretanto, à la diva disco, consegue trazer um tanto de personalidade a boa parte dessas canções, e fugir desse marasmo. Vide Just Dance, primeiro single do cd. Essa referência, aliás, quando aplicada também aos arranjos, é o que salva canções como Beautiful Dirty Rich e a faixa-título. Entre o new wave, eletrõnico, funky e o rock, Gaga prova que é mais do que aparência. Trata-se de performance, com trilha e mise en scène.


*Mais de Lady Gaga:
Performance
Site Oficial

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