fim de mundo com lan-house

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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Achado de sábado

Monochrome - Dominique A e Yann Tiersen

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite. Até mesmo passá-lo em casa pode render boas surpresas. E pasmem, xeretando o orkut de um ex-colega do qual nunca esperaria algo muito imprevisível, eis que descubro a parceria dos franceses Yann Tiersen, multi-instrumentista, compositor da trilha de O Fabuloso destino de Amélie Poulain, e do cantor Dominique A. A música me lembrou de alguma forma Beirut, talvez pelo tom melodioso, meio lamentoso da canção, que parece também com música de marchinha.

A música é ótima, mas o sensacional mesmo é o clipe (não consegui descobrir ainda quem é o diretor).



Pode parecer bobo, mas achei a simplicidade do clipe tocante. A letra da música, ''monocromática", fala de uma vida sem graça, mas ao recitá-la o autor parece trair o próprio espírito melancólico e transformá-la em celebração. Afinal de contas, o que é a vida se não esse sentimento de continuar indo, de tentar organizar suas pequenas coisas inúteis, como os livros debaixo da cama que nunca lemos e provavelmente nunca leremos, como diz a letra da música?

Mas bem, o que me tocou especialmente foi o vídeo, pelo menos de início. Foi o que me fez prestar atenção na música, e é isso o que um bom clipe deve fazer. Gosto da idéia do one-man-video, da sensação, mesmo que totalmente falsa, de que o clipe foi feito e concebido por só uma pessoa. Uma idéia na cabeça e uma web-cam na mão, além de um quarto com alguns objetos cênicos, como o ótimo clipe de Mallu Magalhães, versinho de número 1. E é a utilização desses objetos, junto com a economia formal do plano fixo, que dão toda a graça da cena. No primeiro plano, uma torneira pingando, como algo não resolvido na vida - pelo menos é essa a sensação que me dá uma torneira que pinga, uma coisa que alguém esqueceu e deixou ali - ao mesmo tempo que é um estranho índice de vida em um objeto considerado inanimado. Explico: a água que pinga também remete a um pulso, e a pulsação sempre é de vida. Uma casa com uma torneira que pinga sempre é uma casa habitada.

Outro aspecto interessante do clipe é que a luz é sempre ou proveniente desses objetos ou focada neles, e nunca no personagem em cena - estranho chamar de personagem alguém que não canta nem fala, nem faz quase nada a não ser operar essa pequena sinfonia de objetos domésticos , mas tudo bem.

A idéia talvez seja a de que essas coisas banais é que dêem sustância à sua vida. Não as coisas em si, mas talvez o que elas representem, porque há neles alguma coisa do mundo que os cerca, seja no ato de abrir a geladeira para passar o calor, ou para pensar, ou mesmo na própria referência metalinguística sobre o uso de ventiladores em ensaios fotográficos e diversos clipes, como se vento nos cabelos tornasse a vida mais glamourosa ou mais suportável. No caso aqui, a ironia é maior ainda pela simples falta de longos cabelos para se balançar.

Há nisso tudo uma tensão enorme entre a vida cotidiana, representada por esses objetos, e algo que transcenda a ela, busca tão amplamente enfocada nos nossos mais diversos meios de comunicação de massa. O fato do personagem, e talvez seria melhor falar performer ou regente da performance que é executada pelos objetos, não dublar a música, mas ficar ''fazendo nada'', quando quem acompanha a música é um frio slide show, talvez seja o que melhor exemplifique essa tensão. Se são essas pequenas coisas que representam tudo que há de mais sem graça na vida, pelo menos sob a ótica de uma cultura visual ou mesmo daquilo que é considerado lazer e entretenimento, se elas são o símbolo do tédio ou algo do tipo, são elas que fazem o clipe acontecer, e não o rapaz que estão sentado no centro do quadro, apesar de ser ele quem opera as máquinas.

A pergunta no final não deve ser se os eletrodomésticos são capazes ou não de trazer a felicidade de nós reles mortais, como faziam crer as propagandas de equipamentos domésticos da década de 50, mas o quanto de nossa ''every day life" não faz parte de nossa vida, e que esses momentos vulgares, não só os dos afazeres domésticos, mas aqueles em que não estamos sobre o efeito de nossa mais nova paixão ou realizados com algum projeto particular, fazem parte da vida e devem ser valorizados como tal. No final, a vida não precise, realmente, de um motivo para ser celebrada.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Woody Allen até dar uma dor

O quase tradicional Cineclube da Vila das Artes resolveu fazer uma manobra ousada: em vez de filmes semanais, exibições diárias que irão percorrer toda a cinematografia do diretor de Noivo neurótico, Noiva nervosa.

A mostra, intitulada Woody Allen Por Ele Mesmo, começa hoje, segunda, e vai até dia 10 de março, com exibições de segunda à sábado a partir das 18:30h. Às quartas-feiras, como de costume, haverá debate com algum pesquisador ou cineasta pra falar sobre o filme. A Vila das Artes fica na rua 24 de Maio, 1221, no Centro, quase em frente à praça da Bandeira (atrás da Casa do Barão, aquele casarão amarelo). A entrada é gratuita.


Programação:
"Woody Allen – Uma Vida em Filmes" (dia 2), "Um Assaltante Bem Trapalhão" (dia 3), "Bananas" (dia 4), "Tudo o que você queria saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar" (dia 5), "O Dorminhoco" (dia 6), "A Última Noite de Boris Grushenko" (dia 9), "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (dia 10), "Interiores" (dia 11), "Manhattan" (dia 12), "Memórias" (dia 13), "Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão" (dia 16), "Zelig" (dia 17), "Broadway Danny Rose" (dia 18), "A Rosa Púrpura do Cairo" (dia 19), "Hannah e Suas Irmãs" (dia 20), "A Era do Rádio" (dia 26), "Setembro" (dia 27). Em março, a programação se estende nos dias 2, com exibição de "A Outra", e no dia 3, "Crimes e Pecados".