Em vez de fazer uma lista de melhores do ano, resolvi tentar fazer o exercício contrário: elencar os piores filmes que vi nos últimos doze meses, os quais normalmente não me dão a menor vontade de escrever sobre, mas que talvez mereçam uma espinafração justo pra tentar separar o joio do trigo.
Na tentativa de lembras de tais filmes, os que me vieram mais forte foram os filmes nacionais, reflexo talvez da safra fraquíssima que tivemos nesse ano (pelo menos das coisas que chegaram até Fortaleza). Separado especialmente para vocês, três das piores coisas que aconteceram no cinema nacional no ano:
À deriva
O enredo do filme de Heitor Dhalia tem uma premissa praticamente igual ao de Pauline à la plage, de um dos meus diretores preferidos, Eric Rohmer: jovem vai passar temporada na praia junto com a família, quando acaba descobrindo a complicação da vida dos adultos enquanto enquanto tenta administrar as consequências de se apaixonar pela primeira vez. E o resultado não poderia ser mais diferente. O filme de Rohmer traça um retrato vivo de uma jovem em vertiginosa transformação, enquanto Dhalia consegue no máximo exacerbar o que essa situação e esse estado podem ter de dramáticos. Fotografia, trilha sonora e recursos dramáticos só fazem exarcebar o drama e pouco acrescentam à própria trama.
Do começo ao fim
Praticamente uma unanimidade(negativa) crítica, o filme de Aloíso Abranches sobre um casal de meio-irmãos que têm um relacionamento homossexual parte de uma prerrogativa polêmica para sair pedindo desculpas a torto e a direito. Mata os pais para evitar qualquer tipo de conflito, faz o amor dos dois parecer a coisa mais importante do mundo e esquece de fazer que o mundo realmente exista para os dois namorados. Na vida de Tontom e seu irmão, é só alegria como em um comercial de margarina. Infelizmente, porém, o filme não tem apenas 30s.
Garapa
José Padilha resolveu fazer um filme sobre a fome ''do ponto de vista de quem vive a situação'', buscando o choque e a exposição da dor alheia, mas sem conseguir articular nada além de puro voyerismo pretensamente engajado. É como se ver e condoer-se com a situação fosse o suficiente para sanar o peso na consciência dos espectadores. Reverter a renda do filme para as famílias retratadas também aparenta ser mais um golpe de publicidade, visto que o filme teve circulação restritíssima. Melhor seria doar a renda de seu próximo filme, Tropa de Elite 2, para alguma instituição de caridade.