fim de mundo com lan-house

...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um musical para quem não gosta de musicais

Mamma Mia - O Filme, de Phyllida Lloyd

Se você detesta musicas e adora uma comédia escrachada, certamente vai gostar de Mamma Mia! - O Filme. Se você gosta, porém, eu não teria tanta certeza. O musical parece ter sido formatado para o gosto médio do público de hoje, avesso a musicais. E é justamente sobre este ponto que Phyllida Lloyd, responsável também pela montagem teatral original do espetáculo, mira sua direção, nessa aversão ao gênero. Se é considerado ''irritante'' e ''inverossímel'' para a maioria dos espectadores cenas em que os personagens começam a cantar sem qualquer justificativa, que esta situação seja encarada efetivamente como absurda e tratada, sempre, com o viés da comédia. Pastelão, ainda por cima, pois se esses personagens precisam dançar também que seja com movimentos desengonçados e com um uso exacerbado do humor físico. De tão escrachadas, as cenas podiam facilmente ter sido dirigidas por um comediante e não por um coreógrafo. Ou será que não foram mesmo?

Bom, mas é um musical inspirado nas canções do ABBA, certo? O que poderia-se esperar, então? Um punhado momentos divertidos e uma exacerbação de elementos kitsch, ora bolas, como as músicas do grupo sueco formado por Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad, as letras das siglas do nome de uma das bandas de maior sucesso da história da música pop e praticamente um estandarte do espírito dos anos 70 e da cultura das discotecas e da música disco. Mas no final é só isso que temos: alguns momentos divertidos, talvez mais pelas músicas e vez ou outra pela situação constrangedora em que se encontram os atores, particulamente Pierce Brosnan, que parece totalmente deslocado no filme. Culpa talvez não só do James Bond, imagem com a qual ficará para sempre marcado, mas principalmente do roteiro pífio, que não se utiliza das músicas, mas é somente um pretexto para que os hits do grupo sueco seja inserida aleatoriamente.

O filme certamente não precisa ser bobo para ser divertido, mas essa é uma receita que certamente não foi aprendida pela pessoa que teve a idéia de fazer Mamma Mia. Há ainda alguma coisa de interessante no fato da protagonista ser uma mulher de seus quarenta e tantos anos(Meryl Streep) e seus três ex-namorados(Pierce Brosnan, Stellan Skarsgård e Colin Firth), possíveis pais de sua filha, que está prestes a casar. Na trama, Sophie (Amanda Seyfried), a tal filha sem pai, convida os três homens que desconfia serem seus possíveis pais para sua festa de casamento, quando pretende descobrir qual deles afinal é seu pai. Tudo isso passando-se em uma ilha grega onde a mãe de Sophie possui uma pousada que herdou inexplicavelmente de um de seus ex-namorados, talvez apenas mais um pretexto pra lindas paisagens e a presença onipresente do mar e a dança que a luz faz sobre suas águas na fotografia do filme. Bonita, mas pouco eficaz: como quase tudo no filme, parece estar ali somente para enfeitar ou ''ser divertido'', sem que isso acrescente nada a história alguma que se deseje contar.

A história de amor na maturidade, porém, não chega a traçar seus traços mais rasos de profundidade, e logo tudo parece arbitrariamente armado para encaixar as músicas ou mesmo para justificar a escolha do ABBA: trata-se de uma mulher de meia idade, que na juventude foi uma hippie meio maluca, mas que deixou de lado o amor e este agora aparece-lhe novamente, vindo do passado, e em dose tripla. O que poderia haver de melancolia e nostalgia que justificassem efetivamente a música, porém, acaba virando somente escada para os hits do grupo. O que não é de todo mal, porque se uma coisa boa possível de ser tirado do filme é que terminei de assistí-lo cantarolando as canções e com vontade de baixar já a primeira coletânea do ABBA que eu achasse no Google. Para quem gostou ou não gostou do musical, aliás, recomendo que faça o mesmo: as versões das músicas são praticamente todas iguais as originais, com a diferença que as originais, obviamente, são bem melhores.

Um comentário:

Unknown disse...

Bravo! Bravo!

ahushauhsaushauhsuahsuahsauhau
Não vou mentir. Tive a vontade de baixar as músicas do ABBA desde que assisti ao trailer. ahusahushua

De fato, esses novos musicais tentam desesperadamente montar cenários e situações perfeitamente adequadas ao desenvolvimento climático da dramaturgia. Esquece-se de um detalhe: A música, que se encontra fora de contexto e sintonia. A obra tem o argumento enfraquecido por essa descontextualização, já que se apoia basicamente no conteúdo musical.

Um musical para quem não gosta de musicais, essa é a designação pra isso, como foi muito bem colocado pelo jornalista, por sinal, meu primo. :D