fim de mundo com lan-house

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Cavalos




Dois corpos que se enfrentam. Em todos os seus afetos. Cavalos é o resultado feliz de um encontro intenso, ou vice-versa. ‘’Talvez a gente dance só pra isso, promover encontros’’, diz Daniel Pizamiglio. Ele e Andréia Pires, recém formados no Curso Técnico em Dança no Dragão do Mar, começaram sua pesquisa sobre ‘’amor e guerra’’ há cerca de dois anos, mas, como em certas histórias de amor, foi só com a entrada de um terceiro elemento que as coisas enfim se encaixaram. Leonardo Mouramateus, estudante e pesquisador em artes, entrou no projeto como um olhar de fora, ‘’mas não tão de fora assim’’, afinal os três assinam a direção do espetáculo.

Além dos três, outros tantos encontros: a contribuição essencial de Gustavo Ciríaco e Paulo Caldas, orientador do trabalho de conclusão de curso dos bailarinos. E trata-se de um experimento sobretudo de afetos, como admite Andréia. ‘’Mas não de sentimentalismo’’, esclarece. Afeto no sentido de afetar-se, ser provocado pelo outro. Criar relações. ‘’Sair de casa é colocar-se em crise’’, diz Leonardo.

Em um mundo de atritos e isolamento, dois corpos se colocam frente a frente, ‘’se enfretam’’. E as mil possibilidades e riscos que daí decorrem, todas as artimanhas para se proteger e amar, inclusive o ataque.

Afetar alguém é provocar algo no outro. Entregar-se não pressupõe aceitação e completude. Encontrar com o outro pode ser tão arriscado quanto jogar-se em cima de uma parede. Isso, claro, se a parede pudesse jogar-se por cima da gente. E é por isso que é possível de deparar-se com uma pessoa: é mistério o que pode vier a ocorrer, mas certo que algo deverá acontecer.

Em certo momento, os dois se prendem com um colar. Ele se rompe, pérolas por todo lado. Vestígios.

É preciso remontar, de alguma forma, a ligação. Violência e delicadeza convivem o tempo todo, viram uma coisa só, são uma coisa só. Uma ligação. Um afeto. Um estar diante do outro. O que faz lembrar o vídeo de Leonardo, Roseane Morais e Luana Lacerda, ‘’Fui a guerra e não te chamei’’, também com a dupla de bailarinos. Mas isso já é outra história, aliás, nem é, são outros bons e não menos árduos encontros.

Certa altura, Daniel pergunta a Andréia ‘’qual seu nome’’. A bailarina/performer diz quase tudo. Poderia ,responder ‘’Legião’’. Não que ela seja um demônio, mas os carrega com ela. E demônios podem mesmo ser os que fazem bem e ao mesmo tempo reviram completamente o corpo. Os dois corpos ali, tão presentes, reviram também um tanto a gente.


foto: Marina Cavalcante.

Serviço: Espetáculo de dança contemporânea Cavalos, quintas-feiras, 05, 19 e 26 de agosto, às 20 horas, no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Ingressos: R$2 (inteira) e R$1 (meia).

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