Entre os muros da escola, de Laurent Cantet
Finalmente vi "Entre os muros da escola". A princípio, me pareceu um filme sobre a típica história de superação em que um professor consegue disciplinar e colocar alguma coisa na cabeça de um grupo de alunos desajustados. E os elementos todos desse clichê realmente estão lá. O esforçado professor Marin seria o mocinho, obstinado por tentar melhorar a relação com os estudantes, enquanto a maior parte dos outros professores parece desanimada ou pouco sensíveis às complexidades da relação aluno professor.
Há ainda os alunos inteligentes, os que aparentemente não querem nada com a vida, o encrequeiro que demonstra algum potencial - no caso Souleymane, que não consegue escrever um "autorretrato'', mas mostra interesse por algum rebuscamento e acaba substituindo o texto por uma exposição fotográfica.
E Marin está lá para compreendê-los, enxergar neles algo que os outros não viam e assim poder auxciliá-los a crescer. O jogo sedutor da superação está armado, mas não é assim que o filme prefere proceder. Se a intenção é levantar os problemas da educação na França, não será Marin, praticamente sozinho em sua paciência e obstinação ímpar, que irá solucioná-los.
Não que o longa não aponte caminhos. Marin, interpretado pelo ótimo François Bégaudeau, tenta se aproximar, trata os estudantes quase como iguais, ao mesmo tempo que algumas de suas atitudes demonstram o abismo enorme, cultural e hierárquico, que ainda o separa dos alunos. É exemplar a cena em que o professor reclama de um aluno que chamou os professores de babacas, mas o mesmo responde que ele não tem direito de reclamar, pois havia chamado uma das estudantes de ''vagabunda''. Marin, do alto de sua autoridade, diz que ''não é a mesma coisa'', o que, obviamente, não convence muito os alunos.
Com sua disposição para tentar incentivar e compreender os alunos, Marin é parte de uma possível solução, mas também dos problemas que marcam a relação entre alunos e professores, seja na França ou em qualquer lugar. O ápice dramático do filme, com o julgamento no Conselho de Disciplina se um aluno deve ou não ser expulso depois de desrespeitar o professor, em vez de fechar questão, traz ainda mais questionamentos. É ali que convergem todas as inquietações do filme: se expulso do colégio, o pai do garoto provavelmente irá mandá-lo de volta para Mali, seu país de origem.
E então, como proceder para julgar o garoto? Levar ou não em consideração o contexto familiar e as consequências da decisão do colégio na vida do garoto? Se a punição não é eficaz, nem os esforços de incentivar o potencial de seus alunos também, que saídas nós temos?
O frequente enquadramento de mãos em riste enquanto Miran ainda responde uma pergunta anterior parecem ser bem emblemáticos desse filme, e da necessidade da articulação das perguntas certas para achar as soluções adequadas. Elas são, como Entre os muros da escola, pelo menos um bom começo.
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